terça-feira, 28 de maio de 2013

Mutação faz baratas escaparem de armadilhas humanas

Algumas espécies sofreram uma mutação genética que provoca aversão ao açúcar, o que as ajuda a guardar distância de venenos

Imagem mostra cabeça de uma barata-germânica. Cada apêndice contém diversos pelos sensoriais, alguns dos quais têm função na gustação
Imagem mostra cabeça de uma barata-germânica. Cada apêndice contém diversos pelos sensoriais, alguns dos quais têm função na gustação (Ayako Wada-Katsumata e Andrew Ernst / Divulgação)
As baratas são insetos, em sua maioria, urbanos e onívoros, facilmente atraídos pelo açúcar dos alimentos. Algumas espécies, no entanto, acabaram por desenvolver uma aversão à glicose — e, assim, conseguem escapar das armadilhas montadas para atraí-las e matá-las. Mas os mecanismos por trás dessa mutação não eram conhecidos pela ciência. Agora, um estudo publicado no periódico Science conseguiu determinar como o sistema sensorial do inseto se ajusta às mudanças ambientais, provocando a aversão ao doce.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Changes in Taste Neurons Support the Emergence of an Adaptive
Behavior in Cockroaches

Onde foi divulgada: periódico Science
Quem fez: Ayako Wada-Katsumata e equipe
Instituição: Universidade da Carolina do Norte, EUA
Dados de amostragem: Baratas-germânicas

Resultado: A glicose desencadeia a atividade dos receptores responsáveis pelo sabor amargo. Assim, elas passam a evitar alimentos com açúcar — em uma adaptação comportamental para fugir de eventuais venenos e armadilhas.
A espécie de barata usada no estudo é a chamada barata-germânica (Blatella germanica), a mais comum em casas, apartamentos e restaurantes. Embora tenham asa, elas não voam e são comumente identificadas pelo seu tamanho pequeno e por duas linhas escuras que vão da parte de trás da cabeça até as asas.
Os pesquisadores descobriram que essas baratinhas têm aversão à glicose porque o açúcar desencadeia a atividade de receptores responsáveis pelo sabor amargo, em vez do doce. Com a informação do gosto considerado ruim, elas passam a evitar alimentos com glicose – ao contrário das baratas normais, que são atraídas pelo açúcar. Essa repulsa tem base genética e é passada de geração a geração.
"Não sabemos se a glicose, de fato, tem um gosto amargo para as baratas. Mas sabemos que ela ativa os receptores desse gosto, que seriam estimulados, por exemplo, pela cafeína", diz Coby Schal, professor de entomologia da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e coautor da pesquisa. "Por isso, elas fogem desses alimentos."
A aversão ao açúcar, entretanto, tem um custo às baratas. Na ausência do nutriente, elas crescem mais devagar. "Agora, queremos entender como essa característica persiste na natureza, onde a oferta de alimentos é, provavelmente, limitada", diz Jules Silverman, coautor do estudo. "As baratas precisam se adaptar a um abastecimento pouco confiável e variável de alimentos. A repulsa à glicose coloca uma restrição extra para elas."
Pesticidas — Segundo Coby Schal, a "corrida armamentista" para o controle de pragas tem se focado, principalmente, no ganho de resistência das pragas. Esse estudo, no entanto, mostra uma corrida armamentista mais ampla, que inclui a resistência comportamental a certos tipos de alimentos — no caso, a glicose.
"Na maioria das vezes, alterações genéticas ou mutações causam a perda de função", diz Schal. "Nesse caso, no entanto, a mutação resultou em uma nova função: ativar receptores de sabor amargo quando a glicose é introduzida. Essa nova função dá às baratas um novo comportamento que é inacreditavelmente adaptável. Elas estão à nossa frente na corrida armamentista."
Ayako Wada-Katsumata, pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte, realizou a maioria dos experimentos é a coordenadora do estudo. Ela agora investiga se as baratas podem aprender a associar a glicose a um cheiro específico — e, assim, usar sua memória para ignorar as armadilhas que contém açúcar.

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